Em investigação

Paralisia dos animais da Z-3 pode ter sido causada por botulismo

Hipótese é levantada pela Faculdade de Veterinária da UFPel; dois cães que seguem com movimentos comprometidos estão internados no hospital do Capão do Leão

Carlos Queiroz -

Uma nova hipótese é levantada como causa da paralisia muscular de animais da Colônia de Pescadores Z-3: botulismo. A análise está a cargo de pesquisadores do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), onde dois cães estão internados há uma semana. Os cachorros passam por bateria de exames e seguem em processo de reabilitação dos movimentos. A tendência é de que permaneçam em acompanhamento por mais duas semanas.

Uma apuração realizada por equipe do setor de Patologia da Faculdade de Veterinária também ajudará a confirmar ou poderá descartar a hipótese de botulismo. O trabalho, liderado pela professora Eliza Simone Sallis, será realizado nos corpos de uma galinha e de um galo que apresentaram sintomas similares e morreram em poucas horas. O resultado da necropsia irá se juntar às investigações.

"Essa flacidez muscular é sintoma clássico do botulismo. Como em todos os exames feitos até agora, clinicamente, está tudo certo com os dois cães, esta é a nossa primeira suspeita", explica o diretor do Hospital Veterinário, Martielo Gehrcke. E lembra que, nos casos em que a intoxicação é mais alta, é possível que o caminhar leve mais de um mês para ser recuperado. Há registro, inclusive, de animais com sequelas.

Enquanto Ursinho e Guria melhoram, mais nenhum registro na Z-3

Um vídeo encaminhado nesta quarta-feira (13) pelos profissionais da UFPel aos tutores de Ursinho e Guria levou tranquilidade às famílias da Z-3. Os dois cãezinhos já movimentam a cauda e levantam a cabeça durante os atendimentos; ações simples, mas encaradas como evoluções dado o nível de debilitação em que chegaram. No caso de Guria, uma punção foi realizada, durante a tarde, em abscesso identificado na região do lombo. O material foi encaminhado para análise de líquidos e para citopatologia, para verificação de presença de células neoplásicas. É possível, entretanto, que não exista nenhuma relação entre o abscesso encontrado agora e o quadro de intoxicação. Só os estudos irão dizer.

Enquanto isso, não houve nenhum outro relato de animais com alterações nos movimentos na Colônia de Pescadores. Em grupo no WhatsApp, batizado de A união faz a força, as famílias ainda trocam informações sobre o estado de saúde dos pets. De 17 cães atingidos pela paralisia muscular, desde 25 de março, três morreram. Entre as aves de Josiane Henke, 34, também tutora de Guria, sete mortes foram registradas. "Graças a Deus todos os outros já voltaram a andar. Estão bem melhores", comemora a protetora de animais, Maira Fernandes.

Entenda melhor 

* O que é o botulismo?
É uma doença causada pela ação de uma toxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum, presente em resíduos orgânicos, como carcaças e restos de alimentos. Inclusive as fezes humanas, por exemplo, também geram a produção desta bactéria.

O principal sintoma é, exatamente, a paralisia muscular. Por isso, é possível que o músculo respiratório pare e os animais não resistam.

* Como as aves teriam sido afetadas?

É um dos pontos que chamou mais a atenção, já que as galinhas e galos que apresentaram sintomas similares - corpo rígido, patas sem movimento e pescoço caído - e morreram, não tinham acesso à rua. Ficavam apenas no pátio da casa. "Eu até corto as asas delas", conta Josiane. Não teriam, então, tido contato com restos de outros animais mortos.

O diretor do Hospital Universitário, entretanto, faz a ressalva: "Mas pode acontecer, sim, pelas próprias fezes das aves. Ou seja: existe a possibilidade de elas se infectarem comendo no solo próximo onde defecam", explica Gehrcke. "Além de, com as chuvas, a água pode ter lavado o solo e levado as toxinas".

* Mapeamento segue
O fato de todos os casos terem ocorrido em um intervalo de aproximadamente dez dias também é motivo de estudo. Um mapeamento minucioso das residências busca identificar o que elas podem ter em comum - destaca o professor da UFPel.

Confira outra hipótese 

- Toxina gerada por algas: é mais uma das alternativas consideradas pelos estudiosos. A possibilidade foi apresentada pelo professor da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), João Yunes. O Diário Popular não obteve retorno do pesquisador, mas sabe que a alga produz toxina com efeitos bastante parecidos com o botulismo. Também ocorre flacidez muscular.

Saiba também 

- Por que foi descartada a tese do cloreto de potássio?
Uma hemogasometria, para verificar gases sanguíneos, realizada nos cachorros Ursinho e Guria, ajudou a derrubar a hipótese inicial de intoxicação pelo adubo cloreto de potássio - que poderia ter ocorrido devido à aviação agrícola nas redondezas. Em situações de contaminação por potássio, os animais teriam, inevitavelmente, registrado alterações cardíacas em decorrência de gases que fazem parar o coração e, possivelmente, teriam morrido antes mesmo de os quadros de comprometimento dos movimentos terem evoluído - destaca a médica veterinária da equipe do hospital, Graziele Silveira da Costa.

Sem detalhes 

O Diário Popular tentou contato durante toda a quarta-feira (13) com a Secretaria Estadual de Agricultura para obter informações sobre o relatório já encaminhado pela equipe de Pelotas, para Porto Alegre, mas não obteve sucesso. Os fiscais visitaram propriedades das proximidades da Colônia Z-3 para saber quais produtos eram aplicados e conhecer detalhes dos planos de voo.

 

 

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